9 de dezembro de 2014

das águas, tão ágil

Dezembro, tempo de verso


Sou um leitor que gosta de rir e talvez, por isso, goste muito de poesia para crianças. Porém – leio poucos bons poemas para crianças, enquanto outros aqui chegam sempre tão cheios de frases, receitas antigas, rimas sem imagem ou sentimento... E esqueço-os, sem descobrir com quem pretendiam brincar esses outros, versos ruins. Foi, nessa secura, porém, que ouvi alegremente Maria Augusta de Medeiros alguns anos atrás, entre bichos de água doce, criaturas do mares, seres literários:
“Serei a que canta?
Serei a que espera?
Serei a que inspira?
Serei a que encanta?”

Ainda que seguindo intimamente uma tradição que lembra e relembra Vinícius, Sidónio, aproveitando os mesmos temas, o humor e os fonemas que vêm dos animais, Maria Augusta não se intimida em explorar a transformação das palavras no próprio objeto de sua observação, como nos dois sonoros fragmentos aqui apresentados.

Frente ao pequeno leitor, há sempre o jogo da pergunta, em muitos poemas, bem como a confissão humorada do eu-lírico por trás das cenas não controlar tudo. Como é difícil focar uma foca: vira de lado, de frente, vira de costas! Mas há beleza na vida em movimento: como são molecas e malucas as marolas nas pedras costeiras, como são bonitos os olhos dos moluscos e mariscos que a poeta revela...


Ao mesmo tempo, a ilustração de Michele Iacocca mostra-se divertida, no melhor do seu traço e em cores delicadas, decorando bem o livro, sem desviar a atenção dos poemas.

O terceiro livro de Maria Augusta de Medeiros segue um programa bastante definido – a vida na água e a água que promove toda a vida, contudo de uma maneira leve, sem os resíduos de um discurso ecológico que cansam. Há um empenho e emprego muito generoso sobre a imagem e a imaginação do leitor, das cenas em movimento, dos detalhes inéditos, em meio a uma descrição simples e direta. A antologia apresenta poemas de extensão e métrica bem variadas, e seus versos... seus versos tem o feitio dos cabelos da chuva, de pingos precisos e is nos pinguins, tem ar de festa.
“Ele é um riacho que corre
Como tantos que já vi
Mas tem, na sonoridade,
Um algo que nunca ouvi:
Levando as águas em frente
Parece que está contente
Acho que o Riacho ri.”
Um novo ano + poético para você: 2015 com
Maria Augusta de Medeiros, JACARÉ COM JANELINHA: QUEM JÁ VIU QUE ME APRESENTE! E outros poemas, il. Michele Iacocca (Formato, 2009).

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